A BP prevê que, num cenário de rápida transição energética para uma economia de baixo carbono, o pico de produção de petróleo no Brasil será registrado já no fim da década de 2020. No cenário de transição mais moderado, chamado de “business-as-usual”, o pico será atingido ao fim dos anos 2030.
Em todos os cenários assumidos pela empresa britânica, contudo, a participação das energias renováveis no mix de energia primária consumida no mercado brasileiro crescerá rapidamente, de 15% em 2018 para entre 32% (no business-as-usual) e 54% (no terceiro cenário, mais agressivo de transição energética, batizado de “net zero”) em 2050. As projeções não incluem a fonte hídrica. Já o petróleo perderá sua relevância gradualmente, em todos os três cenários, deixando de responder por 39% da matriz em 2018 para se limitar a 7% a 28%, a depender da velocidade da transição.
A multinacional projeta ainda que a energia nuclear será a segunda a crescer mais rápido, entre 3,4% e 4,8% ao ano no país. A BP acredita também que o Brasil continuará sendo um dos maiores produtores hidrelétricos do mundo. A previsão é que a participação da energia hídrica na matriz energética nacional, que era de 28% em 2018, fique entre 21% e 26%.
No cenário de rápida transição energética, a BP prevê que a produção de biocombustíveis mais que dobrará até 2035, atingindo o patamar de 1,3 milhão de barris/dia. No cenário mais modesto, esse patamar atinge os 900 mil barris/dia na década de 2040.
O economista-chefe da BP, Spencer Dale, afirmou hoje que acredita num crescimento expressivo dos biocombustíveis no país. “O Brasil é a Árabia Saudita dos biocombustíveis”, disse, durante a apresentação global do estudo, comparando o potencial brasileiro nos biocombustíveis com o potencial árabe no setor de petróleo. “Esperamos estar por lá [no Brasil] por muito tempo”, completou.
A BP assume como premissa um crescimento de 1,7% ao ano da economia brasileira entre 2018 e 2050, nível abaixo da expansão esperada para o PIB mundial (de 2,6% ao ano). A expectativa é que o consumo de energia primária no Brasil crescerá entre 60% e 66% até 2050 e que o uso de energia per capita aumente em cerca de 50%.
A demanda elétrica, por sua vez, deve mais do que dobrar até 2050. A maior parte do crescimento da demanda de energia primária virá do setor industrial, seguido do setor de transporte. A fatia das renováveis na matriz elétrica subirá dos 17% em 2018 para entre 45% e 51%.
Covid-19
A BP acredita que os impactos econômicos da pandemia de covid-19 reduzirão a demanda energética em 2,5% em 2025 e em 3% em 2050. Num cenário em que esses efeitos são mais agressivos, a expectativa é que a crise leve o nível de demanda de energia a um patamar 8% menor em 2050.
A companhia prevê que, num cenário de rápida transição energética para uma economia de baixo carbono, os impactos da pandemia serão mais pronunciados sobre o consumo de petróleo, que poderá ser 3 milhões de barris/dia menor em 2025 e 2 milhões de barris/dia em 2050, como resultado da covid-19.
A maior parte dessa redução, segundo a BP, reflete um ambiente econômico mais fraco. No cenário mais agressivo de impacto da pandemia, a queda pode atingis os 5 milhões de barris/dia em 2050.
A BP assume que a atividade econômica mundial deve se recuperar parcialmente nos próximos anos do impacto causado pela pandemia de covid-19, a medida em que as restrições à circulação de pessoal sejam atenuadas. A BP acredita, no entanto, que alguns efeitos persistirão.
A empresa britânica assume como premissa um crescimento do PIB global de 2,6% ao ano, patamar “consideravelmente mais lento do que a média dos últimos 20 anos, em parte refletindo o impacto persistente da covid-19 na atividade econômica”.
Segundo a BP, os impactos econômicos afetarão sobretudo economias emergentes como a brasileira, indiana e africana.
A petroleira britânica acredita ainda que a pandemia trará mudanças comportamentais, por exemplo, no uso público do transporte. “Muitas dessas mudanças comportamentais tendem a se dissipar com o tempo, conforme a pandemia seja controlada e a confiança do público seja restaurada, mas algumas mudanças, como o aumento do trabalho em casa, podem persistir”, cita o estudo da BP.
A empresa também destaca que os efeitos da pandemia podem levar a um processo de “desglobalização”, a medida em que os países procuram aumentar sua resiliência se tornando menos dependentes de bens importados e a medida em que as companhias optem por mudar suas cadeias de abastecimento, trazendo-as para mais perto de suas instalações.
A abertura reduzida da economia global pode levar a uma ligeira redução (0,2 pontos percentuais) na tendência global de crescimento do PIB. A demanda por energia, nesse caso, pode ser 5% menor em 2050.