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Postado em 16/07

São Paulo – A pandemia trouxe mudanças para o comércio exterior e muitas delas devem se estabelecer como definitivas no dia a dia de quem exporta ou importa. Os impactos da Covid-19 na área abarcaram desde o modo de negociar até o transporte de produtos, e parte dos novos procedimentos adotados para fazer frente ao cenário da pandemia se mostraram eficazes, o que deve fazê-los permanecer mesmo no pós-Covid-19.

Especialistas citaram mudanças que devem sobreviver no comércio internacional, como a simplificação dos processos, o aumento das negociações virtuais, o estabelecimento de relações mais próximas e de confiança entre exportadores, importadores e prestadores de serviço, a diminuição da barganha e o ganho de importância das pautas ambientais e sociais nas transações entre países.

Martini: simplificação acelerou / Divulgação

O professor de Comércio Exterior, Negócios Internacionais e Logística Internacional do Ibmec de Belo Horizonte, Frederico Martini, afirma que no Brasil o governo federal já tinha a ideia de simplificar os procedimentos em comércio exterior e a pandemia acelerou isso em alguns pontos. “Alguns documentos são aceitos agora por via eletrônica”, diz. Martini entende, porém, que esse processo ainda não está completo e que ocorreu principalmente no Brasil, já que nas maioria das regiões do mundo já estava acontecendo.

A consultora sênior de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Monica Rodriguez, lembra que ocorreram no Brasil quedas e isenções de tarifas de importação para produtos usados no combate à Covid e que houve redução de mais de 50% da exigência de registros de importação. “Isso significa mais agilidade na importação”, afirma Rodriguez. Ele acredita que o mundo entendeu a necessidade de um comércio exterior mais ágil.

Outro facilitador do comércio citado por Rodriguez e adotado no Brasil na pandemia foi a prorrogação dos atos concessórios de drawback. O drawback isenta a empresa de pagar impostos sobre insumos que serão usados em produtos para a exportação. A prorrogação deu mais prazo para que essa exportação aconteça e o benefício seja usado. Há expectativa de que haja novo alongamento das datas em 2021.

Transporte

No transporte das mercadorias de um país para o outro, os impactos da pandemia foram vastos, com falta de navios e contêineres, alta significativa nos preços dos fretes e, como reflexo, dos produtos. Isso causou impossibilidade de atendimentos, atraso nas entregas de mercadorias e mexeu nas relações entre importadores e exportadores. O setor espera uma normalização da logística até a metade do ano que vem, mas a lição aprendida deve permanecer.

As reservas de lugar para a mercadoria nos navios, que eram feitas com uma semana ou 10 dias de antecedência antes da pandemia de Covid-19, agora precisam ser feitas pelo cinco semanas antes para garantir o embarque em rotas como da Ásia ou Europa ao Brasil, relata Martini. “Mais do que nunca temos que dar a mão para os clientes, mostrando qual é a realidade”, afirma ele, que, além de ser professor, atua em empresa internacional de logística.

Martini acredita que se estabeleceu uma relação de maior confiança entre importador, exportador e prestador de serviço logístico em função desse cenário. Ele vê que a clareza das informações passou a ser essencial, assim como ficaram para trás os acertos baseados apenas em preços. “O compliance, a ética das negociações e a confiabilidade entre as partes têm que estar mais do que nunca no dia a dia das empresas”, diz o professor.

Martini acredita que isso será permanente. “Essa é uma mudança muito boa e é para ficar, antes se vivia num mundo muito especulativo, da negociação, agora eu vejo claramente que os meus clientes querem confiabilidade”, afirma. O professor do Ibmec percebe isso pela diminuição da rotatividade dos clientes no segmento em que opera.

O especialista entende que haverá uma readequação da logística, mas será no médio e longo prazo. “A pandemia veio alertar: temos que rever essa estrutura, temos que rever o papel de cada um nessa estrutura logística”, afirma Martini. Os gargalos na logística ficaram mais evidentes no cenário da covid. “Sem dúvida a pandemia trouxe um quebra-cabeça que a gente precisa montar de novo”, afirma Monica Rodriguez, sobre o transporte.

Na internet

O fechamento do negócio de exportação e importação em si também mudou e migrou para o ambiente online. “É uma ferramenta que também veio para aproximar as pessoas”, afirma Martini, referindo-se a reuniões por plataformas como o Zoom.

Ele acredita que os negócios pela internet seguirão, mas o modelo que prevalecerá será o híbrido. “É diferente você estar em uma feira presencial onde há milhões de oportunidades de negociações”, afirma, lembrando que expor, mostrar e testar os produtos – o que o presencial permite – são necessários.

Rodriguez: mais acordos / Divulgação

A consultora Monica Rodriguez acredita que o Brasil vem percebendo que precisa estar mais inserido no cenário internacional e nas cadeias globais de produção. Na visão dela, isso impulsionou o esforço para agilizar acordos e diálogos com algumas regiões, além da modernização e revisão das tarifas do Mercosul.

“Essa é uma revisão que já está em curso há um bom tempo, mas a necessidade dessa revisão se faz mais premente com a pandemia por conta de todo o contexto, por causa do impacto da pandemia no comércio exterior do Brasil e dos outros países”, afirma.

Os dois especialistas também percebem que a pauta da sustentabilidade ganhou força no comércio internacional com a covid-19. “Além da preocupação com o retorno da economia, do mundo normal, existe uma preocupação ambiental grande e o Brasil não pode estar fora desse contexto”, diz Rodriguez.

Martini relata que há ações pela sustentabilidade nas empresas que atuam na logística e elas incluem não apenas a área ambiental, mas também a social. Armadores, por exemplo, passaram a usar combustíveis menos poluentes, segundo ele. O professor percebe cobranças relativas à sustentabilidade na negociação internacional.

“A pandemia trouxe para todos nós a volatilidade da vida. Hoje você está aí, amanhã você pode não estar, ninguém nunca parava para pensar nisso. E o que a empresa quer é se perpetuar nesse contexto. As pessoas passam, mas as indústrias ficam”, diz.

(*) Com informações da ANBA

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